O período pós transferência dos embriões é geralmente muito estressante para algumas pacientes, para outras de muita ansiedade e para todas um período de muita expectativa. Talvez seja um período meio obscuro, afinal não podemos mais controlar e dar informações pelo laboratório, é um período que depende muito da capacidade do embrião e de sua sintonia com o endométrio ( camada interna do útero).
Algumas pessoas me pediram para explicar sobre o que acontece no período, geralmente de 12 dias, pós-transferência até o dia do B-hCG (exame de gravidez). Antes, sugiro que leiam a explicação que dei sobre a Classificação dos embriões, para auxiliar no entendimento dessa postagem. Segue abaixo a explicação passo-a-passo desde o dia da retiradas dos óvulos até o exame de gravidez:
O dia da ICSI é considerado o dia 0 (zero) - é o dia do "encontro dos gametas".
Dia 01:No dia seguinte da ICSI, verificamos no laboratório a fertilização dos oócitos que foram injetados pela visualização de Dois Prónucleos sendo um do óvulo e outro proveniente do espermatozóide. A fertilização termina com a união dos dois prónucleos e os cromossomos materno e paterno se "embaralham" dando origem a um DNA novo e único.
Dia 2: verificamos a clivagem dos embriões, após a formação de um novo DNA, damos início a divisão celular ou clivagem das células. O ideal é que o embrião esteja com 4 células após 48hs da ICSI. Algumas clínicas (como eu), já não fazem mais essa checagem de dia 2, pois estudos recentes demonstram que ficar tirando os embriões da incubadora para a checagem pode ser prejudicial para seu desenvolvimento.
Dia 3: O embrião deve estar com 8 células após 72hs da ICSI, A transferência dos embriões geralmente é feita neste dia ou no dia 5.
Dia 4: o embrião deve estar no estágio de mórula, a partir daqui a contagem do número de céulas é mais difícil, pois o embrião possui cerca de 16 células e inicia-se um processo de compactação dessas células.
Dia 5: O embrião deve estar no estágio de blastocisto. O blastocisto ja possui uma estrutura mais complexa e diferenciada, por isso existe uma tendência de transferência em dia 5, recomendado para pacientes com mais que 5 embriões. Pois conseguimos selecionar melhor os embriões para transferência, pois nem todos chegam a este estágio. O blastocisto é, basicamente, caracterizado pela presença de:
- uma massa celular Interna (ICM) : é uma estrutura rica em células-tronco embrionárias, que são responsáveis pela origem do embrião (feto).
- Trofoblasto ou Trofectoderma: camada periférica de células que darão origem a placenta.
Dia 6: a divisão celular continua, já é tão grande o número de células que o blastocisto consegue romper e sair da zona pelúcida que o envolvia, permitindo assim ele "buscar" um local para fixar-se no útero. (Também podemos transferir embriões em dia 6, em alguns casos)
Dia 7: O embrião se prende ao endométrio e busca novas maneiras de se nutrir, para isso, ele começa a invadir o endométrio em busca de vasos sanguíneos, dando início ao processo de implantação.
Dia 8: o processo de implantação continua, as células do blastocisto denominadas "sinciciotrofoblasto" produzem enzimas que vão "escavando" o tecido endometrial e destruindo algumas células do tecido que servirão de nutrição e o blastocisto vai assim crescendo e penetrando ao tecido.
Dia 9: O blastocisto consegue atingir os vasos sanguíneos para se nutrir e está implantado ao endométrio. As células do sinciciotrofoblasto começam a produzir o hormônio da Gonadotrofina Coriônica - hCG, para "avisar" ao corpo materno que existe um embrião ali e que o ovário precisa continuar produzindo progesterona. Se não houver esse aviso por parte do embrião, dentro de 3 a 5 dias a mulher menstrua. Atenção: os níveis de hormônio produzidos nessa fase, ainda não são detectáveis por nenhum exame!
Dias 10 e 11: o embrião ou concepto como é chamado nessa fase, já está completamente implantado no útero, com circulação sanguínea funcionante para sua nutrição, com sua estrutura bem mais complexa e diferenciada tanto na parte embrionária quanto a placentária.
Dias 12, 13 e 14: O útero sofre modificações nesse período se organizando para a gestação devido a "notificação" emitida pelo embrião pela produção do hormônio. A placenta nessa fase está bem organizada, desenvolvimento nessa fase é maior em relação ao embrião. O embrião continua sua diferenciação nas células determinando " quem vai fazer o que".
Dia 15: Doze dias depois da transferência é chegado grande dia do exame de gravidez, a partir dessa data os níveis hormonais de hCG são detectáveis no sangue materno e provavelmente nesse dia ocorreria a menstruação para os casos em que o embrião não conseguiu se desenvolver adequadamente. A partir dessa data, já é possível a visualização do saco vitelino ao exame ultrassonográfico. Um pequeno sangramento vaginal nesse período não elimina a gravidez, pois pode ser um sangramento resultante do processo de implantação do embrião. Como descrito anteriormente, o embrião invade os tecidos em busca dos vasos sanguíneos e durante esse processo pode extravasar sangue para o útero.
Portanto, não façam o exame de gravidez antes do dia indicado pela clínica, pois isso pode gerar uma frustração, com descarga de adrenalina e outros fatores que podem interferir na implantação do embrião.
Espero que tenham gostado!
Grande abraço, fiquem com Deus!